Taciano Minervino
A arte existe para nos livrar da realidade. (Friedrich Nietzsche).
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Textos

Presos no elevador.

(Por Marco Bittar)

 

Em 1983, a minha esposa (à época) estava grávida da nossa filha. Bem, eu apesar de jovem, tinha uma situação à época bastante favorável, com isso pudemos adquirir um apartamento no Rio de Janeiro de primeira locação que ainda não possuía nenhum morador. Fui o primeiro comprador e morador. O nosso prédio não possuía porteiro e nem zelador, pois ainda não haviam estabelecido o condomínio. Então no fim do dia não havia mais ninguém no prédio, somente eu e ela.

 

Onde morávamos, na Ilha do Governador – Rio de Janeiro – RJ, nesta época era em um bairro novo, recém loteado, sem iluminação pública e nem linhas telefônicas, pois telefone naquela época era coisa de rico ou de quem tinha um bom padrinho. Principalmente em um loteamento novo.

 

A nossa vida era corrida, não sobrava tempo para grandes coisas durante a semana. Sendo assim as nossas idas ao supermercado se davam no sábado à noite após a volta das casas dos nossos pais, amigos e parentes. Normalmente o mercado fechava as 20:00h. E éramos expulsos pelo fechamento do mesmo.

A gravidez dela era de risco, pois tínhamos incompatibilidade sanguínea e a nossa filha foi retirada antes do sétimo mês de gestação. Então todo cuidado com ela era pouco.

 

Diante desta contextualização temporal entra a história em questão. Certo sábado, ao voltarmos do mercado, entramos no elevador com todas as nossas compras, como eu estava com as mãos ocupadas com as compras, tive a “brilhante” ideia de acionar o botão do andar com o cotovelo, acionei o botão errado, e, ao ver de imediato isso acionei o certo com um pouco mais de força, ou mesmo um desequilíbrio corporal devido ao peso das compras. Desta forma o botão foi para dentro do painel, em diagonal. Como o elevador estava em movimento, ao receber o segundo comando e estando entre um andar e outro, ali mesmo parou. Naquela época, ou naquele modelo de elevador, não havia abertura automática das portas e nem sequer função para um botão de emergência, já que não havia ninguém no prédio e já deveriam ser quase 21:00h.

 

Parei por um momento com o susto meu e dela, comecei a me preocupar em como tirá-la de lá. Olhei o painel e vi que não conseguiria trazer o botão a normalidade. Mesmo batendo lateralmente na chapa de inox da botoeira, também não dava certo. Os parafusos eram Philips, mas o meu Victorinox era tipo o Ranger, o mesmo da minha infância, que não possuía a referida ferramenta. Mas por incrível que pareça a chave de fenda fina servia para o tipo de Philips da botoeira do elevador. Soltei os parafusos e de forma inconsequente sem preocupar-me com a parte elétrica reposicionei o botão que afundei com o cotovelo. Imediatamente o elevador voltou a andar e parei na parada que ele quis, a tirei do elevador e subi o resto pelas escadas.

 

Caso, tivéssemos ficados presos no elevador, o mais provável seria ficar de sábado até a manhã da segunda feira.

Bem essa é uma das minhas histórias com o Victorinox. Mas para mim a mais importante, pois eu não era o único envolvido.

 

Marco Bittar, Rio de Janeiro, 27 de junho de 2022. 

 

Marco Bittar
Enviado por Taciano Minervino em 28/06/2022
Alterado em 28/06/2022
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